A explosão de casos ativos de Covid-19 em Santa Catarina nas últimas 24 horas — 3.011 no total — e a maior taxa de letalidade para a doença desde o início da crise sanitária acendem o alerta de que o Estado está em um platô alto. Segundo o médico infectologista Martoni Moura e Silva, não se sabe quando a terceira onda chegará, mas o cenário deve ser de mais jovens internados pelo novo coronavírus.
“Tivemos um pico importante, o maior durante toda a pandemia um ano após o início. Estamos caminhando para desenhar um platô de estabilidade de casos em nível alto. Obviamente, isso leva a uma assistência deficitária e tempo na Covid-19 é primordial”, reitera o especialista.
Com mais jovens internados, a tendência, segundo ele, é de que esses pacientes respondam melhor ao tratamento, o que também significa mais tempo de UTI (Unidade de Tratamento intensivo).
“Gera um engarrafamento, aumentando a demanda e restringindo leitos disponíveis.” O governo aponta que o tempo médio de permanência na UTI é de 10,1 dias.
Segundo o último boletim do Estado há 22. 105 casos ativos. Nesta quinta-feira (10), a taxa de ocupação de leitos de Covid-19 adulto é de 97,17%, com apenas 29 leitos disponíveis em todas as regiões de Santa Catarina.
Aumento da taxa de letalidade
Os dados do governo estadual também indicam que a taxa de letalidade da doença está em 1,59%, a maior em 13 meses. No Brasil, o índice é de 2,8%, e na região Sul 2,23%. Para Moura e Silva, a média de mortes elevada no país é extremamente preocupante.
“A construção de um platô de permanência de 2 mil óbitos e vida normal é um absurdo. Uma coisa era no início da pandemia, mas agora com investimentos de leitos de UTI, hospitais de campanha e ganho de expertise da equipe médica, ainda ter gente morrendo assim, não dá.”
O Estado atingiu 15.747 mortos devido à complicações da doença. De terça (8) para quarta (9) foram registradas 51 mortes.
De acordo com o último boletim do Necat (Núcleo de Estudos de Economia Catarinense), da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), houve um deslocamento etário das mortes nos últimos três meses, especialmente na faixa entre 30 e 59 anos, que representa 6.141 óbitos do total.
Restrições em vigor
O atual decreto, de 1º de junho, prorrogou as medidas que já estavam valendo até o dia 15 de junho.
O infectologista acredita ser preciso manter medidas mais restritivas ao máximo possível e ainda conciliar com a economia. “Acredito que ninguém queira abrir comércio para facilitar a disseminação do vírus, mas é preciso ter medidas de controle. Todos podem com segurança, mas precisamos de distanciamento social, máscaras e higienização das superfícies.”
“O número elevado de mortes — morreram 10 em um dia e 15 no outro — não é normal. Não é para morrer ninguém. Pessoas estão morrendo porque tem espera de leito de UTI e por uma doença evitável”, argumenta o médico.
A SES também afirma que cada município pode intensificar as restrições de acordo com a gravidade da doença em cada área.
“Ressalta-se que os municípios catarinenses, de posse das informações disponibilizadas nas ferramentas de apoio à gestão, têm a possibilidade de tomar decisões mais restritivas de forma regionalizada”, completa a nota.
São treze regiões em nível gravíssimo e três em nível grave para a Covid-19, segundo o último mapa de risco divulgado no último sábado (5).
Terceira onda e importância da vacinação em massa
O número de casos e mortes pelo novo coronavírus em idosos acima de 80 anos caiu em Santa Catarina desde abril de 2021, segundo o Necat.
A redução ainda mais expressiva foi constada nas pessoas de 70 anos, verificada a partir de maio. Segundo o texto, “é possível creditar essa queda no contágio de idosos ao efeito do processo de imunização em curso”.
Para o infectologista Martoni Moura e Silva, a relação com a imunização é evidente, o que explica também o registro maior de internações de pessoas jovens, que ainda não foram vacinadas. Esses números devem ser maiores em comparação aos idosos.
Ele também levanta a importância de considerar as novas variantes do vírus. “Temos uma nova cepa, que sofreu mutações, que é mais agressiva ao organismo. Uma terceira onde não será com explosões de casos porque tem mais gente se protegendo, mas no sentido de que terá gente mais jovem, o que chama mais atenção”, destaca.
A queda de casos e mortes de idosos no Estado é um “reflexo claro de que as vacinas são eficazes contra as variantes, diminuem sintomas graves e a necessidade de internação”, pontua. “Precisamos divulgar esses dados para convencer a população a se vacinar quando chegar a hora”, diz.
Imunização no Estado
Os dados do Vacinômetro do governo estadual apontam que 89,6% dos idosos de 75 a 79 anos completaram a imunização com a segunda dose. Esse percentual chega a mais de 90% na faixa entre 70 a 74 anos.
Entre as pessoas de 85 a 89 anos, 81% tomaram a segunda dose. Já na faixa de 80 a 84 anos, 88,5% completaram a vacinação contra a Covid-19.
Do total de doses aplicadas em Santa Catarina, 1.974.656 correspondem à primeira dose, o que representa 27,23% da população. Já a segunda dose foi aplicada em 759.934 pessoas. Dessa forma, apenas 10,48% dos catarinenses completaram a imunização.
Fonte: ND