Um manifesto com assinatura de mais de 1 mil médicos será entregue à prefeitura de Florianópolis e ao governo do Estado pedindo a segurança do paciente no tratamento para covid-19 e a defesa de “uma medicina responsável e baseada em evidências científicas”.
O documento defende que não seja recomendada a prescrição de tratamentos ou profilaxias com cloroquina, hidroxicloroquina ou ivermectina, três medicamentos que são alvo de polêmicas por serem defendidos por grupos de médicos, embora não possuam evidências científicas.
“Não há evidências concretas que pessoas que usem esses medicamentos isolados ou em associação, de forma profilática ou como tratamento para Covid-19, venham a ter seu risco de complicações pela Covid-19 reduzido”, diz um trecho do manifesto.
A entrega do manifesto ao prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, vai ocorrer às 16h desta quinta-feira (16) e será feita pelo ex-reitor e ex-diretor do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lúcio José Botelho, e pelo médico infectologista Fábio Gaudenzi de Faria, presidente da Sociedade Catarinense de Infectologia.
No caso da cloroquina e da hidroxicloroquina, os médicos afirmam ainda que “a evidência atual tem mostrado associação do seu uso com potencial risco aumentado de arritmias e de parada cardíaca em algumas situações”. Esse foi um dos motivos que fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) interromper estudos com a cloroquina.
O manifesto iniciou com médicos de SC, mas já tem adesão de profissionais de todo o país. No texto divulgado, os profissionais avaliam que em um cenário de recursos limitados e incertezas sobre a covid-19, o investimento deveria ocorrer em medidas que têm demonstrado resultados, como acesso aos cuidados de saúde, identificação e isolamento precoce de casos suspeitos e confirmados, monitoramento dos pacientes até a recuperação e planejamento de infraestrutura para suporte a casos graves. Os profissionais defendem ainda testagem ampla, distanciamento físico, redução de aglomerações, uso de máscara e higienização frequente das mãos.
O médico Lúcio José Botelho afirma que o manifesto não tem nenhuma pretensão de retirar do médico o direito de medicar seu paciente, tampouco impedir o uso desses métodos em pacientes em estado terminal, quando se esgotaram as tentativas, mas que a recomendação de uso para toda a população representa riscos, como o de uma falsa sensação de segurança.
– O que fica claro é que usar como forma de prevenção em larga escala, sem comprovação, é um erro que pode nos custar caro. Entre os custos não estão só o os efeitos colaterais. Um dos efeitos ruins é que pode passar à população a sensação de que está imune, livre do risco de adquirir o vírus, e de que se adquiri-lo, pode ter uma forma menos grave. A questão é o uso em massa e uso individual. O uso individual é prerrogativa médica, o uso coletivo é prerrogativa da saúde pública – avalia.
Créditos da reportagem: Grupo NSC